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Raiz verde e amarela: zines no cenário nacional

Os zines, produções independentes de quadrinhos e revistas, já ganharam o mundo todo e fazem grande sucesso entre jovens e adultos. Pode até parecer um surgimento dos últimos anos, mas foi criado na década de 30 nos Estados Unidos, se propagaram com o movimento punk e seus ideais revolucionários e nos anos 40 recebeu o nome de “Fanzine”, pelo americano Russ Chauvenet, que juntou as palavras fanatic e magazine (revista do fã). Os punks utilizavam os quadrinhos como movimento de contracultura e divulgação de suas concepções, de novas bandas do grunge, do trabalho de quem não tinha capital para se inserir no mercado.


No Brasil, os quadrinhos chegaram na década de 1960 e a primeira revista foi Ficção, de Piracicaba, São Paulo, publicada em 1965. Mas, foi apenas em 1980 que as produções ganharam força devido às máquinas copiadoras. Nos anos 90 nunca se viu maior tiragem de fanzines. Livretos como Historieta, Confraria dos Dinossauros, Fanzines de nostalgia, Ekletik, Hiperespaço, Megalon, entre outros, fizeram muito sucesso e parte importante da história dos zines no Brasil.



ZINES BRASILEIROS


Um dos quadrinistas pioneiros, considerado grande autor e estudioso é Henrique Magalhães, que realizou o primeiro quadrinho da Paraíba e já escreveu diversos livros a respeito do tema. Ele também criou a famosa personagem Maria, que esteve por muito tempo nas tiras dos jornais paraibanos e agora possui revista própria, a Maria Magazine, que está no número 7, editada pela Marca de Fantasia. “Em 1976 já comecei a fazer revistas independentes com Maria e não parei mais. Fiz muitas revistas e álbuns reunindo as tiras da personagem, em algumas edições incluindo textos sobre outros personagens paraibanos e informações sobre quadrinhos brasileiros”, revela Magalhães.


Os zines são publicações realizadas por pessoas que querem expressar sua arte, suas ideias e críticas. Neles não há nenhum um tipo de censura, sendo considerado como uma forma de comunicação alternativa. São encarados como disseminadores de ideias e ferramentas de formação, conta ainda, Henrique Magalhães: “Tudo o que fazemos tem certo teor político, como atitude ou omissão. Meu trabalho visa valorizar os quadrinhos brasileiros e refletir sobre os conflitos do cotidiano. Isso naturalmente traz elementos explicitamente políticos, pela crítica que faço em minhas tiras e pela resistência de meu trabalho editorial”.


E-zines, a nova tendência que vem invadindo o espaço virtual


Já em 2000 com a popularização da Internet, houve queda considerável da distribuição zines. “Nos anos 1970 e 1980, o trabalho era totalmente manual, desde a diagramação até a composição dos textos em máquina datilográfica. Os recursos tecnológicos que usava eram a ampliação e redução de desenhos em fotocópia e a própria impressão do fanzines, ora em fotocópias, ora em estêncil ou até em offset. "Com a disseminação dos computadores na década de 1990, passei a trabalhar os fanzines em programas de edição de textos e gráficos, como o Word, PageMaker, InDesign e CorelDraw. Atualmente continuo trabalhando com esses programas, mas algumas publicações são totalmente virtualizadas, para circular pela Internet, enquanto outras continuam sendo impressas em laser”, explica Henrique Magalhães.


A ferramenta mudou, mas as criações não. A partir daí surgiram vários blogs e sites que veiculam os e-zines (fanzines próprios da rede). Agora é possível assistir vídeos no Youtube ou ler sites especializados para aprender como fazer quadrinhos. É possível trocar mensagens mais rápidas com seus autores favoritos, ler histórias do mundo inteiro. Além disso, a rede trouxe maior possibilidade de divulgação dos fanzineiros. Henrique Magalhães, por exemplo, divulga seus trabalhos no site marcadefantasia. Apesar das facilidades ainda há muitas discussões no meio a respeito do tema, visões contrárias e a favor.


O acesso à Internet trouxe maior visibilidade, mas isso pode ser contestado, já que quadrinistas com grande potencial passam despercebidos, por não ter divulgação ou acesso em seu blog, página, site, rede social. Por isso em 2011, a Ugra Press, especializada em produções independentes, decidiu criar o primeiro anuário dos fanzines, que reuniu mais de 120 quadrinhos brasileiros e publicações alternativas, se tornando um guia de referência para os leitores, contendo entrevistas e boletins. Atualmente, o anuário já está em sua terceira edição e é possível compra-lo na Internet pelo valor de R$25,00 mais o valor do frete ou na Loja da Ugra, localizada bem no coração underground de São Paulo, a Rua Augusta, número 1371.


Entrevistamos Junior Lelis, fã das produções independentes, que nos conta que se interessou por fanzines pois se aprofundam e dão continuidade a histórias de personagens que ele já acompanha. Junior tem o costume de ler mais as produções estrangeiras que são adaptações de quadrinhos norte-americanos, pois, segundo ele, há mais opções de autores, títulos, perspectivas e conteúdo. Ele prefere os conteúdos e-zines: “Inevitavelmente os da internet pelos simples fatos de que ter acesso aos impressos é um tanto complicado. E isso só piora quando eu tendo a gostar dos estrangeiros”, explica Junior que ainda afirma que aprende com os zines e que para ele os quadrinhos são voltados para o público jovem: “Eu sinto que é uma paixão de um fã que flui em forma de inspiração”.


Para Henrique os fãs são, sem dúvida, parte essencial do trabalho. “Tenho tido boa receptividade dos leitores das publicações da Marca de Fantasia, com muito apoio e entusiasmo. Na realidade considero os leitores e autores como coprodutores de nosso trabalho, sem eles nada disso existiria”.


Os seguidores dos quadrinhos alternativos não podem deixar de prestigiar o HQMIx, que anualmente acontece em São Paulo, considerado o Oscar dos quadrinhos e humor gráfico no Brasil, premiando os melhores do ano. Foi criado em 1989 por João Gualberto Costa, o Gual, e José Alberto Lovetro, o Jal, nomes da seção sobre quadrinhos que os dois possuíam no programa TV Mix 4, da Gazeta. Serginho Groisman, é o "padrinho" e apresentador do Troféu HQ Mix desde sua primeira edição. O design do troféu muda a cada ano, sempre homenageando algum personagem em destaque.


Aumentando ainda mais o destaque do Brasil no cenário dos zines, o país possui umas das maiores fanzinotecas do mundo. Localizada no litoral do Estado de São Paulo, em São Vicente, a fanzinoteca brasileira foi criada em 2004, com o objetivo de fazer mostras de zines nacionais. Muitos especialistas a consideram como a 2ª maior fanzinoteca do planeta, ficando atrás apenas da Fanzinothèque de Poitiers, localizada na capital francesa, Paris.


Por todo esse cenário e com o impulso que os artistas independentes dão ao gênero, mesmo com todas as dificuldades encontradas com relação a divulgação, produção e comercialização, os zines brasileiros encontram uma galera apaixonada pelos temas da contracultura e que participam assiduamente de festivais e eventos relacionados às publicações de origem canarinha.


Personagem Maria, criada em 1965, por Henrique Magalhães.

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Entrevista - Douglas Utescher -
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